Não se iluda: as
pessoas sabem muito bem quando você as considera simples contatos a serem
mantidos e usados em caso de necessidade e quando você as vê como amigas.
Muitas vezes, o aspecto utilitário desses relacionamentos é tão ostensivo que
chega a eliminar qualquer traço de cortesia ou civilidade, para não falar no
interesse genuíno e na preocupação com o bem-estar do outro. É o caso desses
e-mails padronizados, que solicitam ao destinatário o preenchimento de uma
espécie de “atualização de cadastro” para confirmação de endereço e telefone, e
que agora são trocados até mesmo entre “amigos” – como se telefonemas, visitas
e perguntas do tipo “Como vai, como está sua família? ” fossem apenas uma
supérflua perda de tempo, eu, por outro lado, sempre me preocupei em cultivar
amizades pelo simples prazer e pela satisfação que isso me traz. Certa vez,
durante uma viagem ao Panamá, procurei na lista telefônica o endereço de um
panamenho que fora meu vizinho tempo atrás, quando ambos morávamos no interior
de São Paulo, e com quem
não falava a vários anos. Não havia qualquer motivo para fazer isso, a não ser
o fato de que eu desejava sinceramente revê-lo.
Tivemos um encontro
muito agradável, que, com certeza, contribuiu para tornar minha viagem de
negócios a seu país mais prazerosa. E embora essa não tivesse sido uma de
minhas preocupações, o fato é que, se por acaso eu voltar ao Panamá algum dia e
me encontrar em algum tipo de dificuldade, sei que tenho lá um amigo com o qual
posso contar – assim como ele pode contar comigo sempre que vier ao Brasil.
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