quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Filho Pródigo e o Equilíbrio Interior

As Figuras de Transição, nada têm a ver com salvadores da pátria, rebeldes sem causa, iconoclastas, marqueteiros e mitômanos. Embora esses tipos possam tentar se passar por Figuras de Transição – e, às vezes, até consigam iludir algumas pessoas por algum tempo -, o fato é que elas são tão diferentes quanto à água e o vinho.  E o principal motivo disso é que uma Figura de Transição está sempre preocupada em não descansar sobre os louros da vitória, não se embriagar com seu próprio poder e autoridade e não se esquecer de quem ela é e de onde veio. Ela não faz isso porque possui algum tipo de poder sobre-humano. Na verdade, é o oposto. Por ter consciência de que é apenas humana, está sempre atenta às suas ações e reações diante das pressões cotidianas, e não hesita em reconhecer seus erros e corrigir a rota toda vez que for necessário.

No livro Siga sua vocação que o dinheiro vem, a educadora e psicóloga Marsha Sinetar usa uma metáfora muito interessante para falar desse mecanismo interno de “correção de rota”. Ela nos convida a “abraçarmos nosso eu interior”, incorporando, em nós mesmos, os três personagens centrais da parábola do Filho Pródigo. Para quem não se lembra, essa parábola conta a história de um homem que tinha dois filhos. Um deles decidiu pegara a parte da herança que lhe cabia a sair pelo mundo. O outro resolveu ficar e ajudar o pai. O filho que deixou o lar levou, por algum tempo, uma vida de prazeres e dissipação, até que gastou tudo e começou a passar dificuldades. Por fim, retornou à casa paterna e foi recebido com festa pelo pai. Sua recepção calorosa provou a indignação do irmão, merecedora de tal recepção. O pai tratou de tranquilizar o filho, assegurando-lhe que um dia ele herdaria todos os seus bens, mas explicou-lhe que seu coração de pai estava feliz porque o outro filho havia reconhecido os erros retornados. Segundo Marsha, somos o filho pródigo toda vez que erramos e reconhecemos o erro. Somos o irmão indignado quando não nos permitimos ignorar as consequências de nossos erros. E somos o pai compreensivo quando damos a nós mesmos uma segunda chance. Ampliando ainda mais o alcance dessa bonita metáfora, gostaria de acrescentar que devemos ser os três personagens da parábola nas devidas proporções. Se o filho pródigo predominar, corremos o risco de cair em autopiedade estéril.  Se o irmão for a figura principal, podemos nos tornar excessivamente críticos em relação a nós mesmos, punindo-nos constantemente e nunca chegando a lugar algum. Se o pai prevalecer, existe o perigo de nos tornarmos complacentes demais, a ponto de não enxergar nossas próprias falhas. Por outro lado, quando os três personagens estão em equilíbrio, conseguimos rever nossa conduta e conceder-nos o direito de recomeçar.

É exatamente esse mecanismo equilibrado que falta às falsas Figuras de Transição. Ou são complacentes demais com elas mesmas, ou são criticas demais para com os outros ou, o que é mais comum, são ambas as coisas ao mesmo tempo. Contudo, ninguém disse que esse desequilíbrio não pode ser corrigido. Existem muitas pessoas que, no passado,  movidas pela imaturidade e pela falta de orientação adequada, acabaram desenvolvendo características de falsas Figuras de Transição, mas o tempo e a experiência lhe mostraram a necessidade de mudar. Ao enfrentarem o desafio de mudar, deram o primeiro passo no caminho para se tornar verdadeiras Figuras de Transição. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário